porquê ainda a pisa a pé?

Em tempos de um aumento significativo do turismo em Portugal, muitos nos perguntam porque ainda fazemos a tradicional pisa a pé, em lagares de granito. “É para os turistas?”, “É marketing?”.

A componente humana e familiar é essencial neste projeto. É por isso que, desde a compra da quinta pelo seu fundador Jorge Almeida em 1986, nunca deixámos de fazer a vinificação por meio da pisa. Para nós, a lagarada é o auge da vindima; é o momento do ano em que juntamos familiares e amigos e os convidamos a fazer este vinho connosco. Há uma dimensão poética e afectiva no processo da pisa, mas também de ativação da memória – pelo toque, pela sensação nas pernas, pelo olfato; uma dimensão afectiva que transportamos para o produto final e que nos recorda a cada ano porque continuamos a fazê-lo; valorizando o nosso produto, mas também a nossa história.

Se a componente afectiva e humana é uma questão essencial, com certeza que as mais-valias do ponto de vista técnico são a principal razão para a nossa escolha.

De facto, a lagarada no Douro tornou-se historicamente mais comum por causa do vinho do Porto; para este, as castas típicas da região associadas à fermentação nos lagares traziam um resultado superior – mostos bem concentrados e estruturados, ideais para a vinificação do Porto.

A grande vantagem deste processo está em retirar o máximo da película (casca) e da grainha – elementos onde encontramos maior concentração de taninos e cor. Isto acontece pelo trabalho de pressão e esmagamento das massas (dos pés contra o granito), que é muito mais intenso do que os processos de remontagem e maceração das cubas de fermentação.

Com mais concentração de taninos e cor conseguimos trabalhar reservas e grande reservas com maior longevidade e processos de estágio e envelhecimento mais longos, que nos permitem alcançar vinhos com mais suavidade, volume e complexidade.

Não são todas as nossas uvas que levamos até ao lagar e essa é também uma parte importante do processo na adega. Ao longo da vindima selecionamos as melhores uvas para os vinhos reserva e são essas as escolhidas para a pisa. Além dos lagares trabalhamos também com as cubas de fermentação que, pelas suas características tão diferentes, nos permitem trabalhar vinhos mais leves e frutados. Estes últimos são essenciais para compor o nosso portfólio e finalizar os nossos vinhos; isto porque trabalhamos com vinhos de lote ou blends – juntando diferentes castas e processos de fermentação.
É com estes 2 métodos de fermentação em paralelo que procuramos vinhos equilibrados que revelem o seu terroir e também a sua história.

Além da família e amigos que há já décadas ocupam os nossos lagares, agora recebemos também os turistas, que nos ajudam e levam com eles uma experiência inesquecível.